O GUARDADOR DE REBANHOS - XXV
XXV
As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia
toda.
Claras, inúteis e passageiras como a
Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que
as deixa,
Pretende que elas são mais do que
parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal
toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em
nós
E aceita tudo mais nitidamente.
Fernando Pessoa - 13-03-1914
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