O GUARDADOR DE REBANHOS - XXII
XXII
Como quem num dia de Verão abre a
porta de casa
E espreita para o calor dos campos
com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza
de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado,
querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer
perceber?
Quem me disse que havia que
perceber?
Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é
brisa
Ou que sentir desagrado porque é
quente,
E de qualquer maneira que eu o
sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é
meu dever senti-lo...
Fernando Pessoa
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