O GUARDADOR DE REBANHOS - XVIII
XVIII
Quem me dera que eu fosse o pó da
estrada
E que os pés dos pobres me
estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios
que correm
E que as lavadeiras estivessem à
minha beira...
Quem me dera que eu fosse os choupos
à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água
por baixo...
Quem me dera que eu fosse o burro do
moleiro
E que ele me batesse e me
estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa a
vida
Olhando para trás de si e tendo
pena...
Fernando Pessoa
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