ACONTECEU-ME
Eu vinha de comprar fósforos
e uns olhos de mulher feita olhos de menos idade que a sua não deixavam acender-me o cigarro. Eu era eureka para aqueles olhos. Entre mim e ela passava gente como se não passasse e ela não podia ficar parada nem eu vê-la sumir-se. Retive a sua silhueta para não perder-me daqueles olhos que me levavam espetado E eu tenho visto olhos ! Mas nenhuns que me vissem nenhuns para quem eu fosse um achado existir para quem eu lhes acertasse lá na sua ideia olhos como agulhas de despertar como íman de atrair-me vivo olhos para mim! Quando havia mais luz a luz tornava-me quase real o seu corpo e apagavam-se-me os seus olhos o mistério suspenso por um cabelo pelo hábito deste real injusto tinha de pôr mais distância entre ela e mim para acender outra vez aqueles olhos que talvez não fossem como eu os vi e ainda que o não fossem, que importa? Vi o mistério! Obrigado a ti mulher que não conheço. Almada Negreiros Publicado em Almada: O Escritor - O Ilustrador, 1993 |
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